sábado, 5 de maio de 2012

Fernando Schüler

24.02.2012 ›
Entrevista Folha Dirigina - política de educação no Brasil
 
                                       


 
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Um novo contrato entre Estado e sociedade na educação brasileira
Jornal Folha Dirigida – fevereiro 2012

Fernando Schuler: “a verdade é que há um problema estrutural na educação brasileira”
Nas últimas décadas, o ensino superior brasileiro passou por um crescimento exponencial. Do começo dos anos 90 até os dias atuais, o número de matrículas saltou de 1,5 milhão para 6 milhões. Já o total de instituições dobrou, só na última década.

Ainda assim, na opinião do diretor executivo do Ibmec-RJ, Fernando Schuler, o quadro ainda não pode ser considerado satisfatório, principalmente porque a quantidade de alunos que concluem os cursos universitários ainda é muito inferior à média internacional.
Fernando Schüler é especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela Escola Nacional de Administração Pública e em Cooperação Internacional pela Universidade de Barcelona. Tem 20 anos de experiência como professor, em instituições como a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de ampla vivência como formulador de políticas públicas, conferencista e consultor de empresas e de organizações do terceiro setor.
FOLHA DIRIGIDA - Como o senhor avalia o quadro geral do ensino superior no Brasil? Ele tem crescido da maneira adequada, nos últimos anos?

Fernando Schuler — No começo dos anos 90, o Brasil possuía pouco menos de 1,5 milhão de estudantes cursando o ensino superior. Duas décadas depois, cruzamos a barreira dos 6 milhões de alunos matriculados, em boa medida graças ao crescimento do educacional privado. O número de estudantes quadruplicou, em um período em que a população cresceu pouco mais de 30%. Mesmo assim, a resposta é negativa. A taxa de alunos concluintes no ensino superior na Espanha, por exemplo, é quatro vezes superior à nossa, para não falar dos resultados qualitativos que temos obtido. A verdade é que há um problema estrutural na educação brasileira, em grande medida decorrente da falência do Estado como prestador de serviços públicos. Em boa medida, a debilidade da nossa educação tem a mesma natureza da debilidade da oferta da saúde pública, do sistema prisional e assim por diante. O Estado propõe-se a fazer algo que não consegue, e isto tem custado caro a diversas gerações de brasileiros.

No início da década passada, o ensino superior privado era muito criticado por sua falta de qualidade, causada pelo crescimento acelerado no número de instituições e cursos. O quadro melhorou nos últimos anos ou a qualidade ainda existe em poucas instituições?

No ano 2000, o Brasil possuía 1.200 instituições de ensino superior. Hoje temos 2.400. Isto é, em uma década, o País simplesmente dobrou o número de IES. Em 10 anos, criamos mais instituições de ensino superior do que durante toda a história do Brasil. Há um mito sobre o crescimento acelerado das IES nos anos 90. Elas cresceram quatro vezes mais na última década. Isto me leva à conclusão de que nossa primeira tarefa, para compreender a educação brasileira, é prestar atenção aos fatos e retirar do debate qualquer viés de natureza político-partidária. É evidente que uma expansão com esta velocidade não foi feita sem alguma perda de qualidade, ou ao menos com um forte desequilíbrio entre as instituições. No último Enade, dentre 2.176, quase um terço foi reprovada, e apenas 27 obtiveram nota máxima.

No setor privado, é comum criticarem o sistema de avaliação do MEC. A principal das críticas é ao fato de que o sistema atribui um peso muito alto à nota do Enade, que é feito de forma voluntária, e, muitas vezes, sem compromisso, por parte dos alunos. Concorda com esse argumento ou acredita que, no fundo, este aspecto não tem influência decisiva no resultado?

É essencial não apenas avaliar, mas manter uma regularidade de longo prazo no sistema de avaliação. O pior que poderia ocorrer para a educação brasileira seria mudarmos os sistemas de avaliação a cada novo governo. Política de educação é uma questão de Estado, não de governos. É previsível que as instituições estatais levem, em geral, alguma vantagem em uma prova como a que é feita no âmbito do Enade. Historicamente, o sistema estatal de ensino superior foi estruturado para oferecer gratuidade à elite, restando aos mais pobres recorrer ao ensino particular, em geral feito de cursos noturnos e recursos parcos. Isto tem mudado nos últimos anos, ainda que de maneira tímida. O ponto central é que é preciso avaliar. E comparar. Não vejo problema na existência de uma saudável competição entre as instituições de ensino.

Outra crítica frequente ao sistema de avaliação do MEC é ao fato de que o sistema avalia, a partir dos mesmos critérios, instituições de perfis e objetivos diferentes (universidades, centros e faculdades) e instituições de regiões e realidades bastante distintas. A seu ver, existe realmente esse problema ou estes aspectos não influem? Por que?

Não concordo com esta visão. Os estudantes de uma pequena faculdade no interior do Rio Grande do Sul têm o mesmo direito a condições adequadas de ensino que um estudante da USP, da PUC ou do Ibmec. Do ponto de vista do cidadão, do estudante, não deve fazer a menor diferença se estamos tratando de uma universidade ou de uma faculdade, estatal ou não estatal. Aliás, a principal fonte de desigualdade no ensino superior no Brasil é gerada pelo próprio Estado, devido à concentração despropositada de recursos federais na rede estatal de ensino superior. Em todo o caso, é preciso avaliar e comparar os resultados obtidos por cada instituição. Só assim vamos corrigir, essa é minha esperança, as assimetrias estruturais existentes no sistema.

Atualmente, existe uma tendência de fusões e incorporações que têm gerado grandes grupos educacionais que hoje atuam, principalmente, no ensino superior. Este fenômeno tende, a seu ver, a trazer mais problemas ou mais resultados positivos para a qualidade do ensino superior brasileiro?


Em tese, a formação de um grupo educacional de grande porte pode gerar sinergias e aumentar a capacidade de investimento em pesquisa e qualidade de ensino. Vejo com bons olhos este movimento. O que conta, no fundo, não é se a instituição é grande ou pequena. É se ela será capaz de contratar bons professores, ter bons laboratórios e bibliotecas, e, principalmente, ser capaz de oferecer uma educação de qualidade sem se dobrar ao apelo fácil do mercado, isto é, a um certo pacto de mediocridade em que os alunos pagam pouco e são pouco exigidos, e a instituição, por sua vez, reduz a qualidade de ensino, de modo a não perder o cliente. Alunos, em certo sentido, não são clientes. Considero uma equação difícil de resolver.
A Educação a Distância tem crescido, nos últimos anos, em um ritmo bem superior ao do ensino presencial. A seu ver, o mercado está mais receptivo a esse tipo de formação?

Em dez anos, o ensino a distância passou de 1% para mais de 15% das matrículas de graduação no País. Crescemos de maneira muito rápida. As instituições estão aperfeiçoando os sistemas de gestão acadêmica, e investindo mais, o que fará mais sentido na medida em que o sistema ganhar escala. Não há nenhuma evidência de que a educação a distância produza menos qualidade do que a educação presencial. Intuitivamente, apenas observando o envolvimento das pessoas (e não apenas adolescentes) na esfera digital e nas redes sociais, é difícil imaginar que elas aprenderiam mais recebendo aulas expositivas, visualizando um quadro negro e lendo compêndios didáticos, do que em um ambiente digital dinâmico e interativo. Não tenho dúvida de que haverá um forte crescimento do ensino a distancia no Brasil, nos próximos anos

 
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